sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O círculo intelectual da culpa

O interessante dessas manifestações contra a Rachel Sheherazade e o caso do menor agredido não é nem o conteúdo da crítica, pois é claro que a tortura não é um bem, mas sim o paradoxo dos que se revoltam contra um tipo pontual de infração e toleram outras, já quase estabelecidas. A violência desnecessária contra um cidadão é tão condenável quanto a destruição da propriedade e a agressividade contra policiais e trabalhadores. A ideia é que quando a lei falha, ou talvez "o sistema" - seja lá o que é isso - as normas jurídicas devem ser suspensas em prol de uma cidadania ativista. O problema é que quanto um menor como aquele é agredido, seus carrascos provavelmente nem pensam nessas coisas, sendo suas ações condenáveis, com razão, por serem praticadas no calor da emoção. Pior do que isso, porém, são os ideólogos da subversão, que inculcam a rejeição às normas legais numa espécie de desobediência civil distorcida - que também está longe de ser revolucionária pois nem conta com um real apoio popular. Nos dois casos é a suspensão do direito ou a ideia, intrinsecamente destrutiva para qualquer arranjo normativo democrático, de que não há bases comunicativas para um direito comum.

Sim, concordo que a violência da polícia está exacerbada. E penso que talvez seja preciso uma nova abordagem da ação policial. Talvez necessitemos daquele policial de que fala Chesterton: não tanto o que vai às casas de jogos para perseguir ladrões ou intimidar os pobres, mas o que está "mais preocupado com as aberrações do intelecto científico humano do que com os surtos ordinários e escusáveis, embora excessivos, da vontade humana". Com aqueles que prometem o paraíso sem o certo ou o errado, sabendo que isso significa a morte. Os verdadeiramente culpados, que usam bombas ao invés de pistolas, pois não pretendem só acabar com o rei, mas ficam felizes por atingir "alguém"...

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