sábado, 10 de agosto de 2013

A Irlanda do Norte e as identidades religiosas


Reduzir a questão da Irlanda do Norte a um problema de intolerância religiosa seria deixar de lado séculos de história que conduziram à própria afirmação da identidade nacional irlandesa. Por outro lado, o caso ilustra como a religião deve ser levada em conta como um fator cultural de identidade política.

No século XVII, ingleses e escoceses protestantes imigraram massivamente para a região de Ulster, ao norte da Irlanda, confiscando as terras de antigos agricultores nativos. Com as restrições da Coroa à construção de escolas e ao acesso aos cargos públicos para os católicos, a língua inglesa rapidamente passou a dominar o nativo gaélico enquanto um fosso cultural era construído entre britânicos protestantes e irlandeses católicos. A distância ainda foi acentuada pela concentração dos protestantes nas áreas industriais ao Norte, enquanto os católicos ficavam cada vez mais isolados nas áreas rurais ao Sul.

Aos poucos a clivagem se refletiu no âmbito político quando o Home Rule Party (hoje concentrado no Nationalist Party) passou a reivindicar a autonomia da Irlanda por um parlamento próprio. O membros do Conservative Party (hoje presentes no Unionist Party) se opuseram à ideia por temerem o isolamento dos protestantes ao norte da Ilha, que tinha maioria católica. A contenda transformou-se em disputa nacional, mas os britânicos buscaram assegurar o controle de Ulster e das províncias setentrionais, enquanto acabaram por permitir a independência do Sul. Ainda assim, as diferenças entre Nacionalistas e Unionistas na Irlanda do Norte refletem não somente seus respectivos projetos políticos mas também um imaginário histórico-cultural. Prova disso é o fato de que enquanto os católicos no país apresentam-se como "irlandeses", a maioria dos protestantes se identifica como "britânico". No fundo, trata-se de duas identidades nacionais que foram se desenvolvendo a partir da oposição entre diferentes grupos religiosos.